domingo, 19 de outubro de 2008

pop/punk na tasca


Na tasca que serve de entrada, o mulato ao balcão vai sacando as caricas das cervejas que não tardam em acabar, sob o som abafado do soundcheck e a transmissão do União de Leiria/Sporting. As duas mesas de snooker, tapadas com panos bordô, são o assento dos que esperam pelos primeiros acordes dos Sweep 48, quase todos de cerveja na mão.

O cartaz do Johny Bravo, espalhado por todo o lado, dá o mote: “Entrada: 3 bravos”. A academia musical 1º de Junho serve de palco a três bandas: Sweep 48, Matchpoint e Borderline Insane, ordenadas cronologicamente. Nenhuma delas com mais de cinco concertos na bagagem, mas conseguiram reunir amigos e familiares em torno de uma espécie de movimento pop/punk. Interessa é ouvir música “aos altos berros” e entrar no mosh.

Lá fora, vão chegando os carros. O público é maioritariamente adolescente. Os carros, são dos pais, que virão no final do concerto buscar a rapaziada que andou aos saltos das nove às onze, electrizada pela música mal tocada mas contagiante das bandas que por aqui passaram.

“Já não há Super Bock. Agora, só Sagres”. O mulato não está mal disposto. Agradece cordialmente a cada dinheiro recebido, logo o troco dado. Não parece gostar da música, mas também não está muito incomodado. A companhia dos clientes já conhecidos e habituais (pela forma como se falam, tratam-se pelo nome) ajuda a digestão da confusão que se apoderou da tasca.

O microfone do meio mal se ouve. O Paulo, vegetariano e vocalista/guitarrista dos Mathpoint, esforça-se para que aquilo resulte. O baterista, em cima do palco, não consegue ouvir os companheiros e por isso perde-se vezes sem conta; vê-se que está atrapalhado e tem que parar para voltar a apanhar o compasso. Cá em baixo, ao nível do público, estão os três outros membros da banda. Gustavo (baixista), à esquerda do Paulo, é o que mais puxa pela “malta”. Empoleira-se no palco e depois salta novamente para perto da plateia, quase acertando nos que estão encostados às paredes. Ofegante, acaba de dedicar uma música à irmã. Quando o ritmo acelera, o mesmo acontece com alguns que estão do lado de cá. Mandam-se incessantemente uns contra os outros; cotovelos, braços, punhos, pernas e joelhos: tudo isto faz parte do mosh, já bem conhecido destes adolescentes. Um deles acaba de passar com o ombro descoberto pela t-shirt rasgada. Mas não se importa. Lá vai ele outra vez. O Chico, o rapaz que está de chapéu preto, não é amador nenhum nestas andanças. Está às cavalitas dum amigo e acaba de se estatelar no chão. Levanta-se, vê se não partiu nada, vem cá atrás recuperar o fôlego, mas para ele não chega. A noite ainda agora começou e o Chico já está outra vez no mosh.

Cá fora, Prim comenta o espírito que é necessário para se estar nestas bandas. “Não são as guitarras afinadas ou os coros que interessam. Nós (os Borderline Insane) começámos quase sem saber como e agora estamos aqui, a tocar e a curtir.
A bateria cor-de-rosa de Ricardo, baterista dos Borderline, fala por si. A cor berrante das tarolas, timbalões e bombo foi escolhida de propósito quando comprou a bateria. Ricardo é, de resto, o nome que mais se vai gritando aqui de trás. Os breaks energéticos e perspicazes que imprime na bateria cativam a plateia e esta agradece.

Ou seja, enlouquece.

Simão Martins