quarta-feira, 16 de julho de 2008

Música, poeira e mosh


Na tarde de 10 de Julho, milhares de pessoas passam sob a linha do comboio em Algés, numa passagem subterrânea que parece demasiado pequena para tanta gente. O destino é o Optimus Alive.

Por volta das cinco da tarde, a ânsia para entrar no recinto vai crescendo quando já poucos metros faltam para enfrentar os seguranças que passam revista aos bolsos, malas e outros apetrechos. O calor aperta mas a vontade de entrar passa o tempo para segundo plano. Os primeiros passos no recinto destinam-se agora à descoberta do espaço. Oxigénio, poeira, fumo de tabaco e de charros é o ar que se respira. Cedo nasce a necessidade de uma bebida. Gelada e num copo de 0.65 litros, a cerveja vai satisfazendo a sede enquanto não há bandas em palco.

A tenda Metro On Stage, entendida como o “palco secundário”, alberga um dos únicos espaços com sombra, sendo o local de concerto de bandas como Vampire Weekend e MGMT. Fala-se nas músicas que se quer ouvir. Estas bandas não podem (nem conseguem), porém, abalar todo o alarido em torno do concerto dos Rage Against The Machine, que tocam no palco principal esta noite. Ainda assim, Ezra Koenig, vocalista e líder dos Vampire Weekend, leva ao rubro todo o público, empenhando uma postura que parece fazê-lo tomar a forma de David Byrne, enquadrado no panorama dos Talking Heads no início dos anos 80: o líder que, com o movimento corporal, a voz e toda a sua fisicalidade, contagia a audiência e dá um sentido único à música que protagoniza. A plateia, essa, mostra o seu agrado através dos aplausos e dos coros nas músicas, desejando apenas uma melhor qualidade de som. Seguem-se os MGMT, também eles nova-iorquinos, também eles de Brooklynn, também eles uma banda de 2008. O início do concerto não promete, mas eles têm tempo (devido ao cancelamento do concerto das Cansei de Ser Sexy) e de facto, com o tempo, surge um espectáculo. consistente As músicas saem com uma fluidez que o público aprecia e os singles definem este concerto. Primeiro Time to Pretend, após um início de concerto pouco cativante, depois Electric Feel e a última música, Kids, que impõem um momento de grande energia provocada pela electrónica dançável e pela melodia facilmente adaptável ao ouvido.

Chegada a hora de jantar, as opções são diversas. Pizzas, hambúrgueres, carne de porco no pão, KFC (Kentucky Fried Chicken), sandes de leitão, shoarma, churros, farturas, tudo serve para satisfazer a fome de milhares de pessoas. No entanto, há ainda motivos de sobra para saltar, dançar e cantar. Não resta, portanto, muito tempo para a última refeição do dia.

Faltam cerca de quinze minutos para as dez da noite quando sobem ao palco principal os Gogol Bordello. A audiência desperta num ápice ao ouvir os primeiros acordes dados pelo líder da banda, Eugene Hütz, numa guitarra acústica que mais tarde haveria de perder duas cordas. A mistura da música cigana com ritmos punk traduzidos na bateria e na guitarra eléctrica caracteriza o estilo dos Gogol Bordello e põe quem os esteja a ouvir aos saltos. Não se importam que as bandas que lhes vão suceder também provoquem a mesma reacção em quem se encontre perante o palco principal. Do início ao fim do concerto apenas uma coisa imperou: um autêntico circo musical.

Por último chegam, então, os tão esperados Rage Against The Machine. A expectativa traduz-se nas t-shirts, na mentalidade e na orientação política dos muitos fãs da banda que ali se encontram, como quem se veste a rigor para ir à missa. A ideologia comunista está ali perante tudo e todos, bem assinalada pela enorme estrela vermelha num pano que preenche o fundo do palco e pelo amplificador do guitarrista Tom Morello, com a cara de Che Guevara a ocupar a coluna. Mesmo depois dos Gogol Bordello e dos The Hives, as forças reservadas para este último concerto são agora gastas no mosh que acontece um pouco por toda a parte. Onde quer que se ouça a música dos Rage Against The Machine, há saltos, empurrões, cotoveladas e pontapés. Depois de catorze músicas, a banda sai de palco para protagonizar o já habitual encore. Nessa altura, ao som d’ “A Internacional”, punhos no ar e um coro formado por milhares de pessoas a entoar o hino comunista, deixando bem marcado o cariz político de uma das bandas mais contestatárias dos anos 90, agora reunida. Killing In The Name surge como o tudo por tudo. Zach de La Rocha e a sua energia contagiante protagonizam o momento considerado por muitos o mais alto da noite, deixando a cabo do público o refrão “Fuck you, I won't do what you tell me”.

É já dia 11 de Julho quando o passeio marítimo de Algés vai ficando para trás. Pouco aconselhável no que à claustrofobia diz respeito, a passagem subterrânea que atravessa a linha férrea está a rebentar pelas costuras. Uns de carro, outros de comboio, o destino é o mesmo: o descanso.

Simão Martins

1 comentário:

Unknown disse...

boa crónica jovens, mas demasiados adjectivos. calorosa???vamos lá a aperfeiçoar o jornalismo literário.jv